sexta-feira, 12 de março de 2010

João Cristino da Silva

“Alto e esbelto, a sua bela cabeça de perfil judaico - ornada com uma basta cabeleira negra, anelada e romântica, e meio oculta sob as abas de um chapéu à Rubens, garbosamente inclinado sobre a orelha – aparecia e destacava-se de entre a multidão em todas as reuniões públicas, nas exposições, nos teatros, nos circos, porque este artista foi, de todos os que tenho conhecido, o mais mundano, e portanto o mais popular.”
Zacharias d’Aça – João Cristino da Silva.
Ocidente. Revista Ilustrada de Portugal e do estrangeiro. Lisboa Vol X (1887)

A obra de Cristino da Silva configura em meados do século XIX um dos primeiros sinais de uma vontade de modernidade, que o romantismo havia iniciado pelo Europa.

1829 – No dia 24 de Julho, João Cristino da Silva, filho de António Paulino da Silva, nasce na Rua da Saudade, em Alfama - Lisboa. O pai, proprietário e mestre de uma fábrica de fitas, assiste com orgulho ao despontar da vocação do seu filho para a pintura, que com as sobras das tintas realiza as suas primeiras experiências, e inscreve-o na Academia das Belas Artes de Lisboa. Também Sérgio (1838-1890), o seu filho mas novo, revela aptidão para a arte e muita habilidade para o desenho, mas dedica-se definitivamente à música e aos vinte anos é primeiro violoncelo na orquestra do Teatro de S. Carlos, mais tarde, exibe-se em concertos públicos e distingue-se como professor. Desequilíbrios nervosos de que padecia, tal como seu irmão João Cristino, agravaram-lhe uma vivência desordenada, uma irregularidade no trabalho, paralelamente è frequência de um café mal afamado na Rua do Socorro, onde tocava todas as noites e para onde levava Cristino.

1841 – Neste ano, matricula-se na Academia de Belas Artes de Lisboa e termina o curso preparatório nesta instituição em 1845, iniciando o curso de Pintura de História com António Manuel da Fonseca e de Paisagem e “Produtos Naturais”, com André Monteiro da Cruz.
1847 – Neste ano, Cristino revoltado com o ensino da Academia, especialmente com a convencional orientação de André Monteiro da Cruz, de temperamento brusco e pouco acolhedor, abandona os estudos, e ingressa nas oficinas do Arsenal do Exército, onde permaneceu um ano, até à morte do seu mestre. Neste mesmo ano abandona a pintura e constitui uma sociedade (uma ourivesaria na Rua da Prata, local de encontro dos artistas românticos). Em 1848 decide abandonar esta profissão.
1850 – Nestes primeiros anos, economicamente difíceis, Cristino é apoiado pelo amador de arte Hermann Moser.
1855 – Participa nas reuniões da comissão encarregada de escolher as obras a apresentar na Exposição Universal de Paris, no Palácio das Belas Artes.
Apresenta na exposição universal de Paris o quadro “Tableau représentant cinq artistes portugais à Sintra".

Pinta nas zonas do Buçaco e Coimbra.
1856 – Presta provas no concurso para Professor substituto da cadeira de Desenho, na Universidade de Coimbra, mas é preterido por Vítor Bastos.
Realiza o quadro A primeira impressão do artista, encomendado por D. Fernando, após a aquisição da obra Cinco artistas em Sintra.
1859 – Cristino vence o concurso para professor substituto da cadeira de Paisagem e Produtos Naturais da Academia das Belas Artes de Lisboa, onde apresenta Pastores e gado passando una ribeira e Flores e frutos, apesar da oposição de António Manuel da Fonseca, membro do júri, constituído também por Tomás da Anunciação, Pires da Fonte e Francisco Metrass.
1860 – Após a nomeação para professor substituto da cadeira de Paisagem e Produtos Naturais na Academia das Belas Artes de Lisboa, assiste à primeira conferência, a 30 de Outubro.
1862 – Apresenta sete obras com imagens do Tejo e do Mondego na primeira exposição da Sociedade Promotora das Belas Artes.
Esta sociedade, já projectada em 1853 por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, inaugura a sua primeira exposição neste ano, mantendo-se um quarto de século, sempre com a participação de Cristino, Pedroso, Anunciação, Manuel Maria, Leonel, Resende, Thomasini, Newton, Keil, Girão, Ferreira Chaves e Lupi (este participa apenas até 1870).
1863 – Apresenta na segunda exposição da Sociedade Promotora das Belas Artes imagens de Coimbra, Santarém, de Lisboa, de Cascais e do Rio Lima.
1864 – Apresenta na terceira exposição da Sociedade Promotora das Belas Artes, vistas do Buçaco, Cascais, Sintra, Nazaré, S. Martinho, Coimbra, Leiria e cenas de costumes.
Casa com Maria Joana de Mesquita e Melo, filha do tesoureiro da Academia Real das Belas Artes, Conde de Melo. Desta união teve quatro filhos, e de uma outra, o artista João Ribeiro Cristino, membro do Grupo do Leão.
1865 – Na quarta exposição da S.P.B.A. apresenta imagens de Sintra, de Peniche, de Coimbra, da Nazaré e de Pintura de costumes e de História.
Obtém a medalha de 2ª. classe na Exposição Internacional do Porto ao apresentar a Paisagem tomada do Mondego e Flores e frutos. Considerando-se injustamente classificado, publica dois opúsculos referentes a duas visitas a esta exposição.
1866 – Na quinta exposição da S.P.B.A. exibe paisagens da serra do Montejunto, de Leiria, de Coimbra, de Sintra e imagens de costumes.
1867 – Apresenta na Exposição Universal de Paris As Barracas, obra adquirida por D. Fernando. Desloca-se a Paris e posteriormente à Suíça com um subsídio do Governo de 180 mil réis (40 libras), na única viagem que efectuou ao estrangeiro.
Na sexta exposição da S.P.B.A. exibe o esboceto do quadro apresentado em Paris e imagens de Peniche, do rio Sisandro, de Coimbra, de Santarém, da Arruda, de Agualva, do Ribatejo, do Tejo, de Sintra, um episódio de pintura de História e cenas de costumes.
1868 – Apresenta na sétima exposição da S.P.B.A. paisagens do Ribatejo, do Tejo, de Sintra, recordações da Suíça, um episódio de pintura de História e cenas de costumes. Com o catálogo desta exposição é publicada, como brinde, uma gravura sua, “Um sendeiro de 40 anos”.
1869 – Internamento em Rilhafoles,(actual Hospital Miguel Bombarda) no dia 25 de Novembro, às 10,30, após intempestivas cenas na Academia Real das Belas Artes de Lisboa, que abandona neste ano. Foram-lhe diagnosticadas “manias agitadas e delírios agudos”. Saiu desta Instituição um ano depois, a 9 de Janeiro de 1870.
1870 – Apresenta na oitava exposição da S.P.B.A. imagens de pescadores, de Coimbra e paisagens não identificadas.
1871 – Expõe em Madrid as obras Cruz Alta de Sintra e Fonte das Lágrimas. Oferece esta última pintura à rainha de Espanha.
1872 – Apresenta na nona exposição da S.P.B.A. imagens de Coimbra e um retrato.
1874 – Na décima Exposição da S.P.B.A. apresenta quatro obras da zona de Sintra e dos rios Tejo e Alviela.
1876 – Pouco antes de falecer, apresenta na undécima exposição da S.P.B.A. imagens do Ribatejo, de Sintra e de Coimbra.
1877 – Morre no dia 12 de Maio, vitimado por um ataque cardíaco.


Fonte:João Cristino da Silva (1829-77)
Maria de Aires Silveira
Helena Carvalhão Buescu
João Cristino da Silva e o Tema da Paisagem na Literatura Portuguesa de meados do Século XIX
Instituto Português de Museus - Museu do Chiado, Lisboa, 2000

2 comentários:

  1. Se é João Cristino, porque vc menciona a obra de Cristiano, detesto quando as pessoas mudam meu sobenome mesmo mostrando o Rg.

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  2. Agradeço o seu comentário, o nome Cristiano está errado, foi um lapso da minha parte, neste momento vou fazer a devida correcção.

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