terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Luís Dourdil





Pintor e desenhador autodidacta português, Luís César Pena Dourdil nasceu no dia 8 de Novembro de 1914, em Coimbra, e faleceu no dia 29 de Setembro de 1989, em Lisboa.





Orquestração de subtileza

Luís Dourdil é um criador. Pintor figurativo abstractizante é um dos grandes nomes da actual pintura portuguesa contemporânea.

A pintura de Luís Dourdil, que tenho acompanhado de perto nos dois últimos anos, incluindo os sucessivos encontros que com ele mantive no seu “universo” O ATELIER, permite-me abordar, em linhas gerais, o percurso humanitário e artístico do pintor.

O encontro no “atelier” dá para percerber o homem e o artista.

Na parede, extracto e memórias de toda uma vivência.

Não é fácil, hoje em dia, entrarmos no campo em que a sensibilidade representa o melhor juiz.

Luís Dourdil apresenta-se como um homem jovial, cheio de vitalidade e discreto.

A sua visão do mundo recorta-se de forma íntima, concentra-se sobre os objectos e os seres para os projectar no espaço. É o tempo da meditação. É o tempo do silêncio.

Tempo em que o pintor pensa o que deve pensar, isto é: o que deve ver. Fiel às formas que descobre e que o absorvem, a sua obra pictória é uma suave orquestração de subtileza, embora não enconda o vigor do seu carácter. Ele vai buscar ao quotidiano as cenas que guarda religiosamente no seu íntimo.

O seu olhar persegue o mundo das coisas, dos objectos, dos corpos.

Depois, transmite nas telas a dinâmica interna e surda das formas.

Pintura eminentemente sociológica onde se vêem destroços humanos; jovens em poses de um convívio de amor, jardins invisíveis; pessoas sem rostos viajando no metropolitano, etc. São as mensagens em torno do homem anónimo.

Luís Dourdil é um pintor cheio de defesas, fiel a si próprio e aos seus ideais.

Vejo-o a olhar a tela. Hesita. Medita. Pintar lentamente é, para Luís Dourdil, a consolidação da essencialidade, pelo sentido e medida que tem do seu silêncio e como tenta preencher os vazios do mundo.

O trabalho das tintas moldadas por um tratamento abstratizante expande-se em manchas, em toques, em planos e breves contrastes, na conjungação discreta mas sólida do mundo já visto e indiscutivelmente de novo dado a ver como facto redescoberto.

Conjugando um saber e uma experiência com problemas que acompanham o homem desde que ele tem consciência de ser, a sua pintura dos últimos anos, posiciona-se juntamente na confluência de dois vectores: a imagem e a forma.

Os esquemas compositivos que na sua simplicidade, ou incluem um espaço noutro espaço, ou se dispõem em planos.

É na adolescência que Luís Dourdil inicia o seu trajecto plástico, sobretudo no desenho. Até aos 30 anos o desenho é a sua matriz – núcleo imaginativo das coisas e dos seres. A sua temática abrange as gentes anónimas do meio urbano, gentes da ribeira, gentes de Alfama, trabalhadores a preto e branco.

Os bairros de Lisboa são objecto da sua pintura que se prende às sombras, aos grupos de trabalho ou à deambulação desempregada, nunca se fixa no recorte pitoresco. O mundo dos humanos constitui o seu apelo.

Nos anos 40, visita várias cidades da Europa e a sua visão emerge, plena de síntese, de acordo coma sua própria concepção plástica.

Nos anos 50, época da maturidade, o pintor capta, definitivamente, os alicerces estruturais e estéticos do seu edifício plástico.

A suavidade da cor, as sombras, as névoas, as geometrias cénicas.

É o tempo dos silêncios falantes!

In O Século, 2 Fev.1989


Dourdil dialogava constantemente com os s/quadros, num processo que ele descrevia da seguinte forma: “Preciso de parar constantemente de pintar para poder proporcionar e receber as sugestões que o quadro me vai dando à medida que nele avanço”.

Atravessando quase todo o século XX, é bastante vasta a galeria das obras de Luis Dourdil que regista uma vida inteira dedicada ao desenho e à pintura, expressão plástica que o artista definiu como: “Uma tela não está pintada por estar toda “tintada”, está, sim, quando, compositivamente, as formas nela definidas pela cor pelo desenho se harmonizam entre si e exprimem o que o pintor nos quis comunicar”.

Sobre a obra deste pintor, escreveu Rui Mário Gonçalves: “Nos seus quadros ricos de transparência, sente-se uma passagem perfeita dos primeiros aos últimos planos, e atinge-se o acordo entre a figura humana e a envolvência atmosférica numa harmonia tão íntima num equilíbrio tão justo, que deixa de ser necessário o contorno que individualiza a figura, para que seja amortecido o rigor do contacto entre o sólido e o fluído”.

Também Raul Rego o caracterizou: “Era uma sensibilidade extraordinária, o Luís Dourdil; e como essa sensibilidade se aliava a grandes conhecimentos de arte e ao domínio inteiro da técnica, em particular do desenho, o Dourdil tinha todas as condições para ter sido um nome de primeiro plano na Arte Portuguesa do nosso tempo. O seu desenho tem uma leveza e, ao mesmo tempo, uma força que marcam a personalidade do artista”.

Em 1935, surgiu pela 1ª vez na Exposição de Arte Moderna, organizada pela revista de Cultura e Arte “Momento”.

Entre 1944 e 2000, a sua obra pôde ser apreciada de norte a sul do País em exposições olectivas.

Em 2001 a obra do pintor foi divulgada numa exposição de carácter retrospectivo, no Palácio Galveias, organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, de forma a enriquecer a possibilidade dos Lisboetas apreciarem o conjunto de obras que lhes falam dos seres e da cidade.

A obra pública deste artista também está exposta em Lisboa através da pintura de murais e de painéis de grandes dimensões de que são exemplo: o painel a carvão (30m2) no hall das antigas instalações das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade, na Rua do Crucifixo (1942);

o mural de 25m2 no hall do Laboratório Sanitas, na Rua D. João V
(actualmente no Museu da Farmácia/ANF) (1945);

a decoração mural (esgrafito de 16m2), do Foyer de honra do Cinema Império (1952);

a pintura mural de 48m2 do Café Império (1955),

bem como a do Restaurante panorâmico do Monsanto (50m2), datada de 1967.

Este autor de uma pintura de fundo lírico, ocupou também cargos directivos ao ser eleito, em 1957, membro da Direcção da Sociedade Nacional de Belas Artes, cargo que exerceu até 1963 e em 1964 foi membro do Conselho Técnico desta Sociedade.

Ainda no ano de 1957 foi eleito pelos artistas portugueses concorrentes à Bienal de São Paulo, membro do Júri seleccionador das obras a enviar a esta Bienal, por intermédio do SNI e membro do Júri da Fundação Calouste Gulbenkian para aquisição de trabalhos na “1ª Exposição de Artes Plásticas”, organizada por esta Fundação.

Foi ainda, no ano de 1966, o criador do selo de correio comemorativo do 2º Centenário de Bocage, de cor verde, preto e azul e que esteve em circulação até 1973.

A morte de Luís Dourdil, ocorrida em 29 de Setembro de 1989 em Lisboa, é a perda do artista que faz indubitavelmente parte da história desta cidade e a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe homenagem através da atribuição do seu nome a um Largo da freguesia de Marvila, junto a outros pintores como Eduarda Lapa, Mário Botas, Severo Portela e Artur Bual.

Exposições lndividuais

1975 - Pintura e Desenho (primeira exposição de carácter retrospectivo), organizada pela ESBAL., Lisboa.

1982 - Galeria Diário de Notícias, Lisboa.

1986 - Galeria Bertrand, Lisboa e Porto.

1990 - Luís Dourdil Exposição/Homenagem, Galeria de Arte do Casino Estoril, Estoril.

1991 - Luís Dourdil Pintura e Desenho, Galeria 111, Lisboa.

2000 - Pintura e Desenho, Trem/Arco Galerias Municipais, Faro (11 Mar. - 07 Abr.).

2001 - Palácio Galveias, Lisboa (6 Abr. – 17 Jun.).

2002 - “O Lápis como Instrumento Soberano”, Galeria do Pátio, Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea, Almada - A Geometria Sensível, Galeria dos Paços do Concelho, Tomar (Out-Dez.)

Fontes:
Luís Dourdil – Catálogo da - Exposição Pintura e Desenho, Palácio das Galveias - Lisboa, CML, 2001
Site da CML

Imagem de algumas das suas obras:



3 comentários:

  1. Não conhecia, gostei muito.
    Bjs. GUI

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  2. http://luisdourdil.blogspot.pt/
    Para quem deseje ver e conhecer mais sobre a vida e obra do pintor.

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  3. Em 2002 viajei de Sines / Tomar exclusiv. para ver Dourdil, não me desiludio, pelo contrário.

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