sábado, 23 de outubro de 2010

Paul Gauguin






Paul Gauguin
1848-1903

Precursor do simbolismo na reacção contra a pintura naturalista.





Paul Gauguin nasceu em Paris, em 1848, de uma família da classe média. Três anos mais tarde, depois do golpe de estado de Luís Napoleão, a família foi para a América do Sul. O pai de Gauguin morreu no caminho.
Gauguin viveu em Lima, no Peru, até que voltou novamente para França, quando tinha sete anos.
Aos dezassete anos alistou-se como cadete da Marinha e andou no mar até 1871.
Sua mãe morrera quatro anos antes, e ele obteve um lugar de cambista, conseguido pelo seu tutor. Ali conheceu Émile Schuffenecker, seu apoio contínuo na vida futura.
Gauguin começou cedo a interessar-se pela arte, desenhando, pintando e reunindo uma colecção de quadros impressionistas. O impressionismo fascinava-o. Em 1876, conheceu Camille Pissarro, que imediatamente o deixou encantado. Nesse mesmo ano um quadro de Gauguin foi aceite no Salon de Paris, e, entre 1880 e 1886, exibiu os seus quadros nas exposições do grupo dos impressionistas.
Em 1883, a França sofreu uma crise financeira. Gauguin renunciou ao emprego para pintar todo o tempo com Pissarro, em Osny, próximo de Pontoise. No ano seguinte, mudou-se para Copenhaga com a mulher, que era dinamarquesa, e os filhos, e fez uma exposição do seu trabalho que provocou interesse na Dinamarca. No entanto, Gauguin ficou em dificuldades financeiras e a mulher foi forçada a dar lições de francês para se manter e aos filhos.
Gauguin voltou de novo a Paris com o seu filho Clovis, arranjando trabalho como fixador de cartazes. Mas tanto o pai como o filho adoeceram. Gauguin, depois de pôr Clovis numa pensão e de vender parte da sua colecção de arte, para obter fundos, partiu para a Bretanha. Aqui, em 1886, esteve pela primeira vez na Pensão Gloanec, em Pont-Aven, pintando com uma energia e determinação ferozes. Conheceu Edgar Degas, com quem teve várias discussões, mas tornou-se amigo do pintor Charles Laval e de um jovem pintor e teorista, Émile Bernard. A marca do impressionismo no seu estilo tinha já diminuído. Ao mesmo tempo, era influenciado pelos quadros recentes de Paul Cézanne e pelas gravuras japonesas.
Perseguido pelo desejo, possivelmente legado das suas recordações do Peru, de pintar num país tropical, Gauguin viajou durante oito meses pelo canal do Pananá e pela Martinica com Charles Laval. De regresso a Paris, em 1887, doente com disenteria e febres, trabalhou em cerâmica e nas mais diversas formas de arte aplicada, além da sua pintura. Mas uma exposição dos seus quadros foi mal sucedida, e, passados dois meses, voltou à Bretanha.
Do seu segundo período na Bretanha emergiu um estilo e um sistema de ideias que estavam em desacordo directo com a pintura da própria Natureza no impressionismo, ideias essas de grande significado no desenvolvimento da arte europeia. As conversas com Émile Bernard forneceram a Gauguin algumas fórmulas já feitas para cristalizar as suas soluções experimentais e as suas vagas pesquisas. A sua própria agilidade mental e percepção aguda levaram-no longe.
Gauguin continuou o seu novo estilo, finalmente chamado sintetismo ou simbolismo pictórico pelos jovens pintores que mais tarde foram conhecidos como os Nabis. Chegou mesmo a dar a um deles, Paul Sérusier, uma pequena lição de pintura.
Entretanto, Gauguin trocava frequentemente pinturas e cartas com Vincent van Gogh, que conhecera em Paris, em 1886. Com grande dificuldade, Van Gogh persuadiu-o a deixar a Bretanha e ir para o Sul viver com ele, em Arles. A experiência não foi bem sucedida. A disparidade dos seus pontos de vista sobre a pintura desolou-os. Gauguin insistia com Van Gogh para que trabalhasse de memória, o que este achava difícil. Decorridos apenas dois meses, as discussões atingiram um clímax, até que, certo dia, Van Gogh excitou-se e ameaçou o amigo. Gauguin, alarmado, passou a noite num hotel, donde partiu para Paris, deixando Van Gogh num estado de colapso mental e físico.
Gauguin passou três meses em Paris, regressando à Bretanha em Março de 1889. Permaneceu primeiro em Pont-Aven, com Laval e Sérusier, depois em Le Pouldu, com o pintor amador holandês Meyer de Haan, que muitas vezes generosamente pagava as suas contas. No Inverno costumava regressar a Paris, onde vivia na casa do seu velho amigo Schuffenecker e onde se encontrava e conversava com os poetas e escritores simbolistas.
Em 1889, expôs em Bruxelas com Les XX, tendo sido admirado pelo crítico Octave Maus e desdenhado pelo público. No mesmo ano, ele e Scheffenecker organizaram uma exposição dos grupos impressionistas e simbolistas no Café Volpini, em Paris. Coincidindo com a Exposição Universal de Paris, impressionou tanto os devotos artísticos como literários do simbolismo.
Em Abril de 1891, Gauguin partiu para o Taiti.
Aí, em breve estabeleceu laços de amizade com os nativos, vivendo com uma rapariga taitiana, Tehura, a alguns quilómetros de Papeete. Ficou fascinado pelo modo de vida taitiano e pela sua antiga cultura, e as cores vivas predominam nas suas telas. No entanto, a vida de Gauguin no seu «Paraíso tropical» nunca foi fácil. Em Fevereiro de 1892, adoeceu gravemente, e o seu estado de saúde manteve-se estacionário até ao fim desse ano. Trabalhou até, por falta de dinheiro, se acabarem os seus materiais de pintura, vendo-se finalmente obrigado a pedir a repatriação. Antes de deixar o Taiti, pintou A Lua e a Terra, expressão do seu sentimento pela cultura maori, com que tomara contacto através do livro de Moerenhout sobre o saber polinésio. As lendas que tirou de Moerenhout serviram de base para o seu próprio livro Noa Noa, publicado em 1887.
De regresso a Paris em 1893, Gaugui recebeu uma herança inesperada de um tio, pelo que pôde manter-se a si e à sua rapariga javanesa, Anna, durante algum tempo, em Paris e na Bretanha. Mas numa briga com marinheiros, causada põe ela, quebrou um tornozelo, o seu estúdio foi saqueado e Anna raptada. Por isso, em 1895, depois de um segundo leilão das suas obras, regressou ao Taiti e juntou-se a outra rapariga nativa, pintando constantemente, apesar do seu precário estado de saúde.
Durante a última fase, a sua obra ganhou novo vigor e um carácter clássico. O enorme quadro Donde vimos? Que somos? Para onde vamos?, de 1897, era o resumo da sua resposta emocional à vida e a tudo o que o circundava. Por fim, a sua visão da arte tornou-se mais clara. Escreveu a um amigo: «Tem sempre presentes os persas, os cambojanos e um pouco da arte egípcia. O grande erro está na arte grega, por muito bela que seja.»
Em 1898, Gauguin tentou, sem resultado, suicidar-se. Então tornou-se amanuense em Papeete, entrou em conflito com as autoridades e publicou um panfleto satírico ridicularizando os europeus ali instalados. Mesmo quando se mudou para as ilhas Marquesas, em 1901, não encontrou paz. Já muito doente, continuou a tomar partido dos nativos contra os colonos europeus.
Em Março de 1903, foi multado e condenado a três meses de prisão. Morreu a 8 de Maio, numa grande solidão e pobreza.
A influência de Gauguin na arte foi incomensurável. No fim do século XIX, foi ele a fonte dos Nabis, do expressionismo alemão e, até certo ponto, da Arte Nova, além de ser também uma das principais fontes de inspiração da arte idealista do século XX.

Fonte: Enciclopédia Ilustrada de Belas Artes (Grolier, Lda.) 7ª.Edição 1979


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