Edouard Manet
1832 - 1883
Edouard Manet nasceu a 23 de Janeiro de 1832 no seio de uma próspera família da classe média, de proprietários rurais com formação universitária. Seu pai, Auguste Manet, seguiu as pisadas do seu próprio pai na carreira de magistrado e juiz e esperava o mesmo do seu primeiro filho, Edouard. Os Manets eram um verdadeiro retrato de respeitabilidade, uma família modelo parisiense. A mãe de Manet, Eugénie Désirée, era afilhada do Príncipe coroado da Suécia. Trouxe consigo um dote considerável e talvez mesmo uma posição social ainda mais elevada. A família vivia numa imponente casa no nº. 5 da Rua Bonaparte, perto do Sena. Aos seis anos, Manet começou a frequentar a escola de Canon Poiloup, mudando para o colégio interno, o Collège Rollin, quando tinha doze anos.
Edouard foi pressionado pelo seu pai para seguir uma carreira jurídica mas o seu interesse era a arte e não a lei, mas a arte não era uma carreira aceitável do ponto de vista de Auguste Manet.
Edouard candidatou-se ao Colégio Naval, mas chumbou no exame de admissão. Ingressou então na Marinha Mercante e, em 1848, largou para o Brasil no navio escola La Havre et Guadeloupe. Manet descreve a viagem em pormenor nas suas cartas para casa. Ficou chocado com o que viu no Rio de Janeiro: «Neste país, todos os negros são escravos; todos eles parecem oprimidos; o poder que os brancos têm sobre eles é extraordinário; vi um mercado de escravos, um espectáculo bastante revoltante para pessoas como nós». França abolira a escravatura nas colónias das Caraíbas apenas em Março do ano anterior.
Quando o jovem Manet regressou a França, em 1849, estava determinado em tornar-se um artista e o seu pai cedeu, permitindo que se inscrevesse no estúdio do artista Thomas Couture, em Paris.
Manet iria gozar a vida de um «flâneur» (passeante) parisiense. Significava uma pessoa sofisticada e elegante, um janota de luvas brancas, chapéu alto e bengala, que deambulava pelas avenidas e convivia com pintores boémios, escritores e compositores nos muitos cafés em voga. A palavra «rentier» também se aplicava a Manet. Designava uma pessoa com meios financeiros pessoais, livre como Manet de satisfazer os seus desejos, e que não precisava de trabalhar para viver.
Olympia, 1863
O nu feminino tinha sido pintado vezes sem conta na história da arte e não era certamente invulgar. O que tornou a Olympia de Manet diferente, foi o facto de não estar conforme o estereótipo do nu na arte, que apresentava as mulheres como figuras míticas, ninfas e anónimas. O nu de Manet era uma mulher reconhecidamente real, uma prostituta moderna que olha para o espectador de uma forma assumida, envolvendo-o directa e intimamente na cena e que, ao fazê-lo, coloca o espectador no papel de cliente.
Le Déjeuner sur l’Herbe, exposto em 1863 no Salon de Refusés
(exposição alternativa ao Salon oficial)
O quadro suscitou uma indignação imediata assim que foi exibido, com as mulheres nuas e os homens vestidos.
A modelo da mulher nua que olha para o espectador tão directa e despudoradamente era Victorine Meurent, a modelo favorita de Manet. Victorine era uma parisiense oriunda de uma família pobre que teria tido muito poucas possibilidades de conviver com Manet se não fosse como modelo ou, talvez como prostituta. Na década de 1860, era um facto da vida, que homens como Manet nunca encontrariam mulheres como Victorine em nenhuma actividade social. Sabe-se que Victorine Meurent tinha trabalhado como modelo para o professor de arte Thomas Couture, assim como de outros artistas, e que Manet a encontrou em 1862 quando ela tinha 18 anos.
Victorine foi uma artista por direito próprio, expondo um auto-retrato no Salon em 1876. Ironicamente, o trabalho de Manet foi recusado pelo Salon nesse ano.
Victorine, Auto-Retrato
Tourada, 1865/66
Manet desenvolveu este quadro a partir de esboços feitos enquanto assistia a touradas em Espanha.
Em 1865, Manet visitou Madrid e ficou enfeitiçado pela pintura espanhola. Os trabalhos de artistas espanhóis como Velázquez e Goya tiveram uma influência profunda no seu próprio estilo de pintura e na escolha de temas. A moda espanhola era muito popular em Paris nesta época, com a galeria de arte do Louvre a adquirir trabalhos de artistas espanhóis e, com o Théâtre Ambassadeur que apresentava grupos de dança espanhola a actuar todas as noites.
Retrato de Suzanne Leenhoff
Suzanne Leenhoff tinha chegado a Paris com apenas 19 anos, vinda da sua terra natal de Zaltbommel, na Holanda e ganhava a vida como professora de piano. Em 1849, o jovem Manet com 17 anos conheceu Suzanne quando esta foi contratada por sua mãe para ensinar piano aos filhos. Em determinado momento tornaram-se amantes, após o que Suzanne desapareceu rapidamente para a Holanda. Regressou mais tarde, depois de dar à luz um filho chamado Léon Edouard. Manet tinha então aproximadamente 20 anos. Uma criança ilegítima era inaceitável para uma família com a posição de Manet e, por isso, Léon passou a ser o afilhado de Manet e irmão mais novo de Suzanne. Suzanne e Manet casaram-se em 1863, o ano seguinte à morte do pai de Manet.
Edouard Manet morreu a 30 de Abril de 1883, com 51 anos de idade. Havia algum tempo que sofria de sífilis em fase terminal, que lhe provocava dores constantes e gangrena no pé esquerdo, que lhe foi amputado 11 dias antes de morrer. Muitos amigos assistiram ao seu funeral e diz-se que Blanche ouviu Degas dizer «ele era maior do que pensávamos». Este é um epitáfio adequado a um artista cuja influência no curso da arte do século XIX foi profunda. Actualmente, pensamos nos impressionistas, como o grupo que rompeu a fronteira da arte tradicional da época, mas foi Manet que tornou isso possível. Manet foi a ponte entre as velhas e novas escolas. A obsessão de Manet em pintar o que via, a verdade do mundo moderno, abriu um novo caminho para os que se lhe seguiram.
A Janela
Berthe Morisot, uma grande amiga, casou com Eugène irmão de Manet
Retrato de Stéphane Mallarmé, 1876
Retrato dos Pais do Artista
Retrato de Stéphane Mallarmé, 1876
Retrato dos Pais do Artista
Fonte: Manet – Um novo realismo, da Porto Editora
legal
ResponderEliminar