TAMARA DE LEMPICKA
Uma mulher livre, de beleza fria e desconcertante
1898-1980
Ambígua, evidentemente. Livre, sem dúvida. Uma lenda seguramente.
Tamara de Lempicka, la belle polonaise, a vedeta do período entre-guerras, reunia em si tudo aquilo que simboliza a época em que viveu. Ou melhor, o que caracteriza a elite da época, gente que frequentava o Ritz de Paris ou o “Grand Hôtel de Monte Carlo” e que nos tempos actuais integraria o chamado “jet-set”.
Ainda recentemente, em 1978, o “New York Times” se referia a ela como a “beldade de olhos de aço, a diva da era do automóvel”. Na verdade, o seu mais célebre quadro, a que deu o título de “Auto-retrato de Tamara no Bugatti Verde”, revela algo da relação que Tamara mantinha com as máquinas, fossem elas feitas de aço ou de carne e ossso.
Na verdade, Tamara nunca possuiu nenhum “Bugatti” verde, mas um simples Renault amarelo berrante! O que importa, afirmou certa vez a pintora, é que «A minha toilette condizia sempre com o carro, e o carro com o meu vestido».
Cronologia:
Em 1898, nasce Tamara Gorska, em Varsóvia, filha de pais abastados. O pai, Boris Gorski, é advogado de uma firma comercial francesa. A mãe, Malvina Gorska (Decler era o seu apelido de solteira), pertencia a uma família próspera e tinha sido educada no estrangeiro. Tamara tem um irmão mais velho, Stanczyk, e uma irmã mais nova, Adrienne. Tamara era uma menina dominadora e “senhora do seu nariz”, sempre a comandar todas as brincadeiras.
Em 1910 a mãe de Tamara encomenda um retrato da filha a um famoso pintor que trabalha a pastel. Tamara considera as sessões de pose um autêntico tormento e o resultado final insatisfatório. Convencida de que podia fazer melhor, obriga a irmã a posar para ela e pinta-lhe o retrato. Declara que gosta mais do seu trabalho do que o do pintor.
Em 1911, Tamara aborrece-se com os estudos. Finge adoecer e consegue que os pais a tirem da escola. Na companhia da avó, que a estraga com mimos por ser a neta preferida, viaja por Itália, onde descobre a sua paixão pela arte.
Em 1914, em protesto contra o segundo casamento da mãe, Tamara, que então frequentava uma escola em Lausanne, recusa-se a ir a casa nas férias grandes. Em vez disso, fica em casa da Tia Stefa, em Petrogrado. É a partir desse momento que resolve que um dia também ela virá a disfrutar da vida luxuosa com que toma contacto nessa altura. Tamara enamora-se de Tadeusz Lempicki, um jovem alto, moreno e bem parecido, advogado em Petrogado.
Em 1916, Tamara Gorska e Tadeusz Lempicki casam-se na Capela dos Cavaleiros de Malta, em Petrogrado.
Em 1917 e 1918, apesar das terríveis condições de vida impostas ao povo russo, os Lempickis continuam a levar uma vida de ostentação. Após a Revolução de Outubro, Tedeusz é preso pela Cheka (polícia secreta), em Dezembro de 1917. Tamara consegue a sua libertação recorrendo aos bons ofícios do cônsul sueco em Petrogrado. Tadeusz viaja com a mulher para Copenhaga. O tempo que passou na prisão tornam-no um homem quezilento e amargo.
1918-1923 – Tamara e Tadeusz emigram para Paris, cidade onde este último não consegue arranjar trabalho. Nasce a filha de Tamara, Kizette. Tamara recebe lições de pintura, sobretudo com o mestre André Lhote, com o objectivo de ganhar a vida com a venda das suas obras. Pinta naturezas mortas e retratos da filha Kizette e de uma vizinha, Ira.
A Galeria Colette Weill vende as suas primeiras obras, pondo-a em contacto com o “Salon dês Indépendants”, o “Salon d’Autonne” e o “Salon de Moins de Trente Ans”. O dinheiro que então ganha dá-lhe a possibilidade de viver luxuosamente. Viaja para o estrangeiro, ficando nos melhores hotéis e rodeia-se de escritores e artistas famosos.
Em 1925 faz a primeira ezposição de “Art Déco” em Paris. Tamara torna-se conhecida como artista da “Art Déco”,
Revistas americanas de moda, como a “Harper’s Bazzar, começam a reperar na pintora. Tamara e Kizette partem para Itália, a fim de estudar as obras-primas do classicismo. Castelbarco organiza a primeira exposição de Tamara em Itália. O Marquês Sommi Picenardi torna-se seu amante. Tamara conhece Gabriele d’Annunzio, na altura o mais conhecido novelista europeu, para além de dramaturgo e conquistador de mulheres, que mete na cabeça que Tamara será a sua próxima presa.
Em 1926 D’Annunzio encomenda a Tamara o seu retrato. A pintora instala-se na sua famosa “villa”, “Il Vittoriale” em Gardone, supostamente para pintar-lhe o retrato, embora o seu objectivo seja iniciar um caso com o escritor. Nem o retrato nem o romance se chegam a concretizar.
Em 1927 , o quadro “Kizette na Varanda” conquista um importante primeiro prémio na Exposição Internacional de Belas Artes , em Bordéus.
Em 1928 Tamara e Tadeusz divorciam-se depois da vida do casal se ter tornado insuportável. Neste mesmo ano, Tamara conhece o Barão Raoul Kuffner, coleccionador dos seus trabalhos. Em 1929, Tamara torna-se amante de Kuffner. Aluga um espaçoso apartamento na “Rue Méchain”, encarregando Mallet-Stevens da respectiva decoração e viaja para a América. É atribuída a medalha de bronze à obra “A Comunhão Solene de Kizette, na Exposição Internacional de Poznan, na Polónia.
Em 1933 o Barão Kuffner propõe casamento a Tamara, que ela aceita, seguindo os conselhos da mãe. Perante a crescente influência do nazismo na Europa, Tamara sente-se cada vez insegura. Ao longo da década de trinta convence o marido a vender a maior parte das propriedades na Hungria.
Em 1939 o casal inicia umas férias prolongadas na América. A galeria Paul Reinhart, de los Angeles, organiza uma exposição exclusivamente dedicada aos trabalhos de Tamara de Lempicka.
1941-1942, Kizette junta-se à mãe e ao padrasto na América. Exposição das obras de Tamara na galeria Julian Levy, de Nova Iorque, nas “Courvoiser Galleries”, de S. Francisco e no Instituto de Arte de Milwaukee.
O impacto da arte de Tamara começa no entanto a declinar.
Kizette casa com o geólogo texano Harold Foxhall, do qual tem duas filhas.
Em 1943 os Kuffners mudam-se para Nova Iorque.
Em 1960 Tamara procura aderir à Arte Abstracta e começa a trabalhar com espátula.
Em 1962 Raoul Kuffner morre vítima de ataque cardíaco.
Em 1963 Tamara transfere-se para Houston, para estar mais perto de Kizette, que a partir de agora gere os negócios da mãe. Tamara domina a vida familiar dos Foxhall.
Em 1973 a Galerie de Luxembourg de Paris organiza uma retrospectiva da obra de Lempicka.
Em 1974 Tamara muda-se para Cuernavaca, no México. Altera várias vezes o testamento com o objectivo de exercer o maior controlo possível sobre a família.
Em 1979 morre Harold Foxhall e Kizette muda-se para Cuernavaca a fim de cuidar da mãe, que entretanto adoecera gravemente.
Em 1980 a 18 de Março Tamara Lempicka morre durante o sono. Cumprindo os desejos da mãe, Kizette espalha as cinzas sobre a cratera de vulcão Popocatépetl.
A biografia de Tamara de Lempicka, não é propriamente rica em acontecimentos. Tal com Greta Garbo, com a qual chegou a relacionar-se, esta vedeta da pintura Art Déco, esforçou-se ao máximo para apagar as marcas do seu passado, deixando apenas escapar escassos elementos biográficos envoltos no mais misterioso silêncio. Surgindo do nada desembarca em Paris em 1923, dizia-se então, com apenas dezasseis anos de idade. Por essas contas, seríamos levados a concluir que Tamara teria nascido em 1906 ou 1907. No entanto, a artista afirmou em dada altura que teria casado pela primeira vez em 1916. Com dez anos de idade? Terá nascido em Varsóvia? Ninguém sabe ao certo. O que se sabe é que vinha da Rússia, fugindo à Revolução, na companhia do primeiro marido, um tal Lempicki.
Para uma emigrada, evidenciava uma mente completamente revolucionária, embora na linha de Maria Antonieta, que aconselhava aqueles que não tivessem pão a comer bolos.
A Bela Rafaela, 1927
Óleo sobre tela, 64 x 91 cm
Paris, colecção particular
As duas amigas, 1923
Óleo sobre tela, 130x 160 cm
Múseu de Arte Moderna, Genebra
Grupo de Quatro Nus, 1925
Óleo sobre tela 130,8 x 81 cm
Colecção particular
Adão e Eva, 1932
Óleo sobre telal, 118 x 74 cm
Museu de Arte Moderna, Genebra
Rapariga de Luvas, 1929
Óleo sobre tela, 53 x 39 cm
Museu Nacional de Arte Moderna, Paris
Fonte: Lempicka de Gilles Néret - da TASCHEN
Que belo domínio de uma técnica na pintura. Suave, vivo e claro. Seu degradê nas cores e sombras perfeitas, dando um ar metalizado a distingue de qualquer outro artista!
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